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Capítulo 1 - Everything will change



Era um Domingo de manhã, um daqueles domingos ensolarados, depois de ter chovido durante a semana inteira. O jovem menino de Jesus, estava sentado na beirada da janela do sótão, onde ultimamente estava sendo seu quarto. Ele adorava aquela parte da casa, era só sua, podia desenhar seus demônios e colocá-los nas paredes sem o perturbarem, não deixava ninguém entrar desde o dia em que sua mãe encontrara um saquinho com cocaína dentro. Bom, Wendy não era o melhor dos exemplos que se poderia ter de uma mãe, na verdade, Kurt a considerava a pior.

Ele estava sentado lá havia nada mais nada menos do que 2h escrevendo em um caderno, que o julgara "seu diário". Estava escrevendo uma música, ou era o que pensava estar fazendo. Sua mente estava muito perturbada, não conseguia pensar em nada significativo para colocar no papel, estava um pouco ansioso, um pouco nervoso. Parte dele sabia que aquela fita que entregara para Krist não seria ouvida hoje, mas também parte dele sabia que quando ouvisse, não pensaria duas vezes em aceitar o convite proposto.
Deixou o dito diário de lado, onde em vez de terminar a letra, desenhara uma espécie de esqueleto alien comendo a canção. Se jogou na sua cama, resmungando porque o domingo era sempre infernal, um tédio.
Olhou para o teto, havia uma fenda nele, boa o bastante para colocar algumas coisinhas lá, pensou sorrindo. Seus pensamentos desapareceram com um grito de sua mãe.

- Kurt, desça aqui! Seu pai chegou!

Revirou os olhos, seu pai de novo. Será que não tinha ficado claro que não queria ele por perto depois das promessas não cumpridas e pelos seus atos? Desceu depois de 15 minutos, batendo a porta da entrada. Seu pai estava sentado na grama, perto da cerca. Suspirou fundo e caminhou pesado até ele, a preguiça sempre o consumira.

- Don. - começou.

- Kurt! Que bom te ver, meu filho. - Don se apressou em levantar assim que o vira. Estampava um largo sorriso no rosto.

- O que quer?

- Ora, hoje é um domingo, não é? E pela sua cara, não está sendo muito agitado. Estava pensando em fazermos aqueles programas de pai e filho, lembra como você e eu nos divertiamos no parque perto do lago? - Estava realmente animado.

Kurt colocou as mãos no bolso do jeans, que já estava em seu corpo havia 3 dias. Ele exibiu um sorriso sarcástico, balançou negativamente a cabeça, olhando para o chão.

- Você está realmente falando sério? Acho que em sua cabeça, isso seria um pedido de desculpas, não seria? Ahh Don... Eu não te perdôo mais, talvez um dia eu mude de ideia. Mas tudo o que você fez foi mentir, e eu tolo, ingênuo, o pequeno menino de Jesus, acreditava. Acho que não tenho mais o que falar, agora pode voltar para seus filhos. Por favor, eles precisam de você. - Quando terminara de falar, deu meia-volta e começou a caminhar de volta à casa.

Don franziu o cenho. Se sentiu magoado com as palavras de Kurt, mas sabia que também estava merecendo àqueles mals tratos dele.

- Não fale assim comigo, Kurt Donald Cobain! Eu sou seu pai e exigo respeito!

- Deixou de ter quando começou a preferir os filhos da sua nova puta. Assim como deixei de ser seu filho à partir desse momento. - Kurt dissera sem ao menos olhar para trás.

O loiro entrou na casa, se deparando com sua mãe olhando fixamente pela porta.

- Algum problema? - sua mãe começara.

- Não, só Don me enchendo a porra do saco de novo. - disse Kurt subindo as escadas para seu quarto. Wendy desviou seu olhar para o filho, como reprovação, iria dizer algo se não fosse interrompida por Kim.

- Hey Kurt, gostaria de provar essa torta? - disse, toda feliz. - Eu finalmente consegui! - Com certeza! Mas agora não estou com vontade de doces, guarde um pedaço para mim, eu vou procurar! - sorriu para a irmã e entrou em seu sótão.

Kim era sua irmã mais nova, depois que ela nascera, tudo mudou para Kurt depois, mas ele não a culpava pelos atos impensáveis de seus pais, mas sentira ciúmes quando pequenos. Estava novamente em seu quarto. Era por volta de umas 13:30h Tranquilidade, pensou. Suas pálpebras estavam inchadas, pesadas e doloridas. Ele não dormia havia umas 43h, ou mais. Fechou seus olhos, mas tinha medo, a dor da solidão voltaria, todas suas trevas voltariam. Foi mais forte do que o jovem loiro, que se entregou ao sono. Boa noite Bela Adormecida.

Acordou no outro dia todo suado e morto de fome, abriu os olhos e olhou pela janela. Tinha voltado a chover. Se levantou e percebera que estava sem camisa, provavelmente teria a tirado devido ao calor do domingo abafado. Pegou sua camisa preferida, tinha ganhado de sua tia, uma camisa do Perl Jam, sua banda preferida da época. Estava suja e com cheiro de armário misturado com o odor do suor. Não se importava, a vestiu.

Uma pedra atingiu sua janela.

- Hey, saia logo daí! Filho da mãe, acorda! - gritava a pessoa do lado de fora, que supostamente teria atirado a pedra.


Capítulo 2 - Stay



Kurt não perdeu tempo e correu à janela, a voz soava familiar. Mas não que ouvira todos os dias.

- Qual é, cara! Você podia ter quebrado o vidro! - quem teria que se virar para pagar seria ele, não seu amigo.

- Pouco me importo com seu vidro, cara! Agora desça aqui, eu ouvi a porra da sua fita! - Krist gritava, impaciente.

Ao ouvir a última frase, o loiro correu o mais rápido que pôde até a porta de entrada. Tropeçou nos calçados que havia perto da porta e teria caído se Wendy não o tivesse segurado. Kurt se levantou e olhou para ela com um sorriso no rosto. A mulher não vira aquele sorriso havia um bocado de tempo.

- Qual o motivo desse sorriso? – Wendy sorriu, queria pensar que era para ela.

- Você que não é. – Se soltou dela e abriu a porta, correndo em direção à Krist, que se escorava em uma árvore do quintal.

Kurt não andava com Krist, não muito. Afinal, Krist acabara de entrar na sua sala. O moreno era o novato popular, atencioso, brincalhão, divertido, talentoso e falava de todos os assuntos com todo mundo, não excluía ninguém. Kurt o admirava por isso, até o ponto de ouvir que o maior gostaria de ter uma banda também. À partir daí, Kurt o “amou”, digamos assim. Krist se tornaria seu melhor amigo depois do último (um homossexual que Wendy proibira o filho de andar com ele).

- Hey Kurt! – Krist se virou para o menor com um aceno de mão. – E aí, cara?!

Kurt o recebeu com um “abraço de camaradas”.

- Então, o que achou?!! – o menor estava com um sorriso de canto a canto de sua face e seus olhos brilhavam. A adrenalina tomava seu corpo, por conta da felicidade e ansiedade.

- Ei ei, se controle, cara! – Krist estendia suas mãos à tentativa de fazer Kurt se acalmar. – Eu ouvi a fita e... simplesmente amei!! Pesado, sujo e contagiante!! Eu acredito que deveríamos mesmo começar uma banda!

Kurt não se aguentava de tanta felicidade. Sua primeira reação foi gritar e, novamente, dar um abraço apertado em Krist – o que retribuíra por educação, porque não era normal receber abraços de um cara naquela época. Os dois subiram para o sótão.

Enquanto o loiro empolgado e elétrico mostrava seu “estoque” de letras para Krist, o mesmo ficava olhando as pinturas na parede.

- Presta atenção em mim, porra! – Gritou Kurt.

Assim que ouvira o grito, o moreno voltou seus olhos para um monte de cadernos empilhados em cima da cama, o que deduziu ser as letras das músicas. Mas... uma pintura realmente tinha se destacado entre outras na parede. Esta, porém, estava no canto de cima, meio encoberta por outros desenhos, mas Krist conseguia ver claramente o que nela estava desenhado. Se levantou e caminhou lentamente em direção à mesma.
Kurt o observara, meio receoso pelos tantos desenhos sem sentido na parede.

- Caralho! O que é isso? – Krist perguntou, apontando para o desenho de Kurt segurando uma arma na mão e matando os membros da família, depois, se matando.

- Ahm... nada. – Kurt começou, embaraçado. Como Krist conseguira ver aquele desenho?!

- ... Ok, escuta... eu tenho que ir agora, cara. Outra a hora conversamos sobre esse negócio da banda. – O moreno começou a andar para a porta, rapidamente.

Kurt se sentiu sozinho, com aquele mesmo aperto no coração. A dor de sentir que estava prestes a perder um futuro, ou melhor, um amigo. Se apressou em levantar e segurou Krist pelo pulso, o encarando, sério.

- O que era aquilo, cara?? – Krist não podia deixar de esconder que estava assustado.

- Tenho muitas coisas pra te contar... Você merece saber, quero dizer... teremos nossa banda.

Krist sentou-se encostado na porta.
Kurt sentou-se em sua frente.

- Olha... antes de tudo, quero que saiba de uma coisa: eu quero me tornar um astro do rock e depois, irei me matar. – Kurt dissera olhando nos olhos do maior, sem a menor expressão. Seco. Sério.

- O QUÊ?!? – Krist estava a ponto de se levantar e ir embora (de novo). A não ser pelo o que Kurt dissera logo em seguida.



Capítulo 3 - Through your mind... Can I know you?



- Não seja mais um a me deixar. Por favor... Chris.

Cobain olhou fundo naqueles olhos escuros e profundos de Krist, ficou tempo de mais “viajando” naquele olhar que esqueceu da situação. Kurt não podia deixar Krist ir embora, ele poderia nunca mais voltar. Aquela situação era embaraçosa, mas deveria explicar tudo o que o moreno gostaria de saber, aliás, ele tinha direito, estando agora à começar uma banda. Mas como todos sonhos, este poderia falhar e não haver mais nada que os dois possam fazer futuramente. Era o sonho de Kurt, de ambos. Aquilo não poderia falhar, não deixaria. Decidiu contar para Krist o que significava aquilo tudo, mas em suas palavras. Contaria? Apenas o que queria que o amigo soubesse. Nisso, Cobain era bom.

Despertou de seus pensamentos, com o outro o chamando. Kurt olhou confuso e distante, como se estivesse saindo de um transe.

- A-Ah... desculpe. – Soltou Krist e suspirou fundo, dando uns passos pra trás. – Olha... fique tranquilo, te contarei tudo o que quiser saber. Apenas pergunte.

Krist o olhou confuso, passou as mãos pelos cabelos e as descansou na nuca. Aquele cara deveria ser louco, um momento atrás estava histérico, feliz, desesperado pra planejar as coisas sobre a banda e de repente, mudou seu humor tão rápido... Kurt estava com um olhar vazio, sozinho, e se Krist pudesse fazer algo, faria.

- Porra cara, não quero saber de nada. Ao longo dos anos, eu vou saber de tudo. – Se aproximou e abraçou o loiro, que ficou imóvel, apenas olhando para o chão. – E escuta, eu não vou te deixar, não importa o que outras pessoas tenham feito, não vou te deixar, ok? – Uns minutos antes, Krist poderia ter saído dali frustrado, queria todas as respostas, queria saber de tudo, mas ele se voltou contra ele mesmo ao ouvir àquela frase vinda do amigo. Ele precisava de alguém e Krist seria esse alguém.

Kurt permaneceu imóvel por alguns instantes antes de abraçar o maior tão forte que o outro chegou a cambalear. Afundou o rosto no peito de Krist, queria chorar naquela hora, queria agradecer, queria o mandar embora, queria gritar, mas não o fez. Aquele abraço significava muita coisa. Os dois se afastaram e Krist bagunçou o cabelo de Kurt.

- Você é um tampinha, sabia? – Deu uma gargalhada e se sentou na cama – novamente.

Kurt sorriu ao ver que o outro, agora, não estava mais assustado, com medo ou nada disso, mas estava se sentindo em casa. Confortável.

- Chris, posso te perguntar uma coisa? Você ajudou a construir a torre Eiffel? – Deu uma gargalhada alta e logo depois se contentou. – Ahm... você disse que conhece um baterista, certo?

Krist assentiu. – Sim, ele não é daqui, mas está passando um tempo na casa de uns parentes aqui mesmo. Acho que ele toparia na boa. – Olhou pro lado e viu um telefone fixo em um móvel de canto. Olhou para Kurt como se pedisse permissão para usar, então foi ao telefone, discando um número e esperando.

- Dave? – Krist começou. – Ahh cara! Só escuta, estou na casa de um amigo meu perto da escola, na frente da loja de discos, vem pra cá agora. Acho que você vai gostar da notícia. – E desligou.

- Simples assim? – Perguntou Kurt, olhando pela janela. – Você acha que esse cara vai saber onde é?

- Não tem como ele se perder. Você mora no meio do nada, quase. – Deu de ombros ao receber um olhar nervoso do loiro.

Alguns instantes depois, a campainha tocara e os dois meninos – que estavam no sótão – desceram voando as escadas, e só não caíram pelo fato da escada ser larga o bastante para os dois passarem lado a lado. Krist abriu a porta com um sorriso maior que o mundo, enquanto Kurt terminava de descer as escadas.

- Dave! – Abraçou ele, se afastando quando Kurt chegara à seu lado.

- E aí, cara? O que houve? Que notíc- - Dave parou de falar ao ver Kurt. Olhou em seus olhos, sua boca, seu cabelo... depois abriu um sorriso e estendeu a mão. – Prazer, David Grohl.

Kurt notou que Dave demorou muito o olhar sobre ele, mas também fizera aquilo com o novato. Ele era lindo... a maneira que o cabelo lhe caía pelos ombros e aquela energia... era quase que contagiante. Estendeu a mão e a apertou. – Kurt Cobain. – Sorriu.

Tinha algo no loiro que Dave queria descobrir, aprender sobre ele. E iria descobrir.

“Esse cara...” Kurt falou baixinho consigo mesmo.

- E então? Vamos subir? – Krist sorriu. – Mas antes, vou ali em casa buscar meu caderno com minhas músicas, pode ser? – Kurt assentiu e observou o maior ir correndo para o outro lado da rua.

- Quer subir? – Perguntou à Dave, olhando pra baixo, já no segundo degrau.

- Claro. – Sorriu e os dois começaram a subir.


Capítulo 4 - Dont Let Them Know



Dave caminhou uns metros até chegar à porta do sótão. Ali em cima era abafado e com um cheiro de fumaça tão forte e concentrada, que, se ele não gostasse de cigarro, pediria licença e iria embora. Mas não era somente cheiro de fumaça... existia um outro aroma diferente que afinal, era muito convidativo. Sorriu ao perceber que Kurt o cutucou no ombro, pedindo para que entrasse no sótão – quarto.

Adentrou o cômodo e começou a observar tudo aquilo em volta, o quarto estava todo bagunçado. Não era incomum um quarto de um menino naquela época ser daquele jeito. Mas... estava totalmente desarrumado. Caixas de cigarro sobre as escrivaninhas, copos com água derramados em cima de roupas jogadas no chão. Dave não pôde notar que não havia um “monte” roupas atrás da porta, da qual se abria só até a metade, por causa dos panos.

- Você teve ajuda pra desarrumar tanta coisa? – Dave riu e olhou para Kurt.

- Arte própria. – Sorriu e se sentou à beirada da cama, esperando que o amigo virasse para o lado para ver os quadros e desenhos esquisitos na parede e fazer algum comentário desconfortável e desnecessário que o deixavam constrangido, assim como Krist. Mas não o fez. Dave somente se sentou no chão, pegando uma revista em quadrinhos do seu lado.

Kurt agradeceu mentalmente por não precisar responder tantas perguntas que pudessem vir à tona. Bocejou olhando para o outro, lendo as revistinhas igual uma criança.

- Mas hein... cara? – Viu que Dave não respondia e decidiu cutucar sua perna com a ponta do all star.

- Oi? – Dave olhou para cima. Quando percebeu, fechou os quadrinhos e colocou-os de lado. – Ahh desculpa. É que eu realmente gosto de Mickey. – Sorriu e olhou para Kurt.

O loiro se surpreendeu, aliás, não são muitos adolescentes que continuam a gostar de Mickey quando nessa idade. – Sério?! Eu também! – Deu uns tapinhas na cama para que Dave se sentasse ao seu lado. – O meu favorito é o Donald.

- O meu é o Pateta. – Dave deu uma gargalhada e se sentou do lado do menor na cama. Só então percebeu os desenhos na parede, olhando-os fixamente.

Estava bom de mais pra ser verdade, pensou Kurt. Suspirou, esperando alguma reação do colega. Mas nada, Dave somente olhou pra ele com uma expressão de proteção, cuidado e preocupação. O loiro franziu o cenho.

- O que foi? Não vai dizer nada? – Estava certo que perguntaria algo.

- Não. Você quer falar alguma coisa?

- Não... – Kurt o encarou. Aquele cara, que seria provavelmente o baterista da banda... Kurt gostara dele. – É que... todos perguntam e perguntam sobre meu quarto e sobre os desenhos na parede. Eu evito trazê-los pra cá, mas... você e Krist foram de extrema necessidade. Afinal, vocês são da banda. – Parou assim que percebera que tinha falado algo antes do tempo.

- Banda? – Indagou Dave. – Vocês têm uma banda? ... – Engoliu seco. – Querem que eu faça parte dela?

- B-Bem... – Começou Kurt. Parecia que todas aquelas perguntas vindas do outro, eram mais um “sério isso cara? Que tosco”. – Eu falei antes da hora, mas... Krist e eu estamos querendo começar uma banda, eu toco guitarra e canto, ele toca baixo e... ele disse que você toca bateria. M-Mas não se sinta pressionado. – Se apressou logo em dizer.

Dave somente o olhou dizendo aquilo tudo e depois de uns segundos – que pareceram infinitos para Kurt – abriu um largo sorriso e colocou o cabelo atrás da orelha.

- É claro que eu topo! Tô dentro! – Gritou, extasiado e histérico dando um abraço no loiro.

Kurt se desequilibrou devido ao máximo de nervosismo e tenção de animação por conta de Dave que, caiu deitado na cama. A gargalhada de um se misturava com a gargalhada do outro. Ambos sentiam a mesma coisa, ansiedade, nervosismo e... – pararam por um momento, olhando um nos olhos do outro – atração?

- Seus olhos são lindos, cara. – Dave disse, olhando fundo nos olhos azuis de Kurt. Com a mão, distanciou os fios loiros do rosto do menor.

Olhou fixo para o moreno em cima dele. O que estava fazendo? Mas não conseguia desviar o olhar dos olhos do outro também. Algo nele o chamava atenção. – Obrigado. – Era tudo que conseguia dizer. Sorriu.

Com aquilo tudo, com aquele sorriso, com aquele olhar – de solidão – Dave não se conteve e quebrou a distância entre os lábios de ambos.

Kurt hesitou por uns segundos, afastou a cabeça de Dave e o encarou.

– O que...? – Mas parou quando percebeu duas pessoas paradas na porta do quarto, os olhando fixamente. Arregalou os olhos. Merda.


Capítulo 5 - Dont Runaway



Wendy deixou cair o prato com o pedaço de torta que Kim preparara para Kurt. Krist, atrás dela, levando a mão até a boca.

O loiro na cama, logo se apressou em levantar e se ajeitar. Já Dave, se sentou na cama e ficou encarando os dois. Colocou o cabelo que lhe atrapalhava a visão atrás da orelha e esperou quem falaria primeiro.

- N-Não foi nada do que vocês estão pensando. – Kurt se apressou em falar e encarou a mãe, sem culpa, mas com um pouco de medo do que a mulher pudesse fazer. Ele sabia e já tinha presenciado o bad side de Wendy, por longos anos depois do divórcio e tinha certeza que não provocaria ele.

- Não vou ficar ouvindo suas abobrinhas inúteis, Kurt. Eu sei o que eu vi, você não precisa se explicar. Eu tenho olhos. – Falou seca, rude, andando apressadamente até o filho e o puxando pelos cabelos loiros, com raiva e com vontade de machucá-lo. – Já te disse que não suportaria mais uma vez isso. Você lembra do seu amiguinho, querido? Lembra do que a mamãe fez com ele? Mas agora a mamãe não vai fazer nada com ele, porque o problema é você.

Dave olhou perplexo para Wendy, se apressando em levantar e arrancar a mão da mulher dos cabelos de Kurt – o qual estava com os olhos apertados de dor. Krist se aproximou e segurou as mãos de Wendy para trás.

- O que você pensa que está fazendo?! – Gritou Dave, incrédulo às palavras dela.

- Quem é você mesmo? – Começou gritando. – Eu sou a mãe dele e não tolero isso!

Krist apertou mais ainda os pulsos dela, que mais tentava se soltar e bater em Kurt.

- Olha, eu não conheço ele. Eu não gosto dele. Ele é o baterista. Não tem nada entre a gente. – Disse o loiro, pondo fim àquilo tudo e deu uns tapinhas nas costas de Dave.

Krist soltou Wendy, que deu um tapa na cara de Kurt e saiu do quarto, virando uma última vez pra trás. – Quero que você caia fora daqui, espertão. – Olhou em direção ao moreno de cabelos cumpridos e saiu.

Dave suspirou olhando pra baixo e foi caminhando pela porta.

- Onde você vai? – Perguntou Krist.

- A Sra. Cobain me mandou sair, não quero causar confusão. Não nesse tipo de família. – Parou na porta e olhou de canto para Kurt – Chris me fala os dias de ensaio. Estarei lá.

Kurt acompanhou Dave sair pela porta e se virou de costas, passando os dedos das mãos pelo cabelo loiro que não lavava havia 4 dias. Do lado de fora da janela, o moreno estava indo embora chutando uma pedrinha.

Fechou os olhos, franziu o cenho e uma lágrima rolou.

- Vamos... não fica assim, cara. Ele ainda está na banda. – Krist colocou a mão no ombro de Kurt, a fim de acalmá-lo.

- Mais um, Chris. Não é o fato dele estar na banda. E a amizade? Ele é um cara estupidamente legal! Porra. Fodi tudo. Mais uma vez. – Fungou.

O mais alto envolveu o pequeno e chorão em seus braços, apoiando o queixo em sua cabeça.

- Ele não foi embora da sua vida ainda. – Começou. – E não é o único.


Capítulo 6 - Drain You



A manhã estava chuvosa e um tanto quanto escura devido às nuvens carregadas. Kurt estava saindo de casa com sua guitarra – sem capa – e com um pano cobrindo-a e deixando-se molhar pela chuva.

- Sabe cara, já existe um objeto chamado sombrinha. Você poderia testar um dia desses. – Disse Krist em um tom sarcástico, que estava esperando o loiro para ambos irem ao primeiro ensaio. – A casa do Dave fica à uns metros da escola. – Olhou para Kurt.

- Eu poderia testar agora, se você estendesse a sombrinha um pouco mais pro meu lado, filho da puta. Eu tô me molhando nessa merda. – Franziu o cenho e chegou mais ao lado de Krist. – É longe. Se apressarmos o passo, chegaremos lá em 40 minutos.

O moreno o olhou perplexo, como se Kurt tivesse falado como os nazistas tratavam os judeus dentro das celas.

- Você tá me zuando, né?! Acha que eu trouxe a bicicleta pra que? Brincar de mecânico? – Andou mais uns metros e chegaram na bicicleta. Se sentou nela e olhou para o menor. – Não vai subir?

Kurt subiu e ajeitou a guitarra em seu colo. Sentar na bagageira da bicicleta doía, mas conseguia suportar a dor. Aliás, já havia suportado dores piores do que essa. Só depois de uns minutos pedalando, lembrou-se:

- SEU BAIXO! Onde está?! Você não pegou?!

- Para de se balançar, demônio! – Krist encostou a bicicleta em um canto de uma loja e desceu. – Deixei na casa do Dave desde ontem.

- Ah, obrigado por me avisar. – O loiro revirou os olhos, desceu da bicicleta e olhou para o outro lado da rua. – Temos mesmo que olhar pra esse inferno agora? – Disse olhando pra escola.

- Dá um tempo, vai. – Passou o braço pelo pescoço de Kurt e tocou a campainha da casa (da qual ficava do lado da loja).

Dave apareceu com um molho de chaves na mão, com um moletom rasgado no ombro e uma calça, podia sentir o chão frio devido ao fato de estar descalço. Seu cabelo estava molhado e Kurt deduziu que ele havia acabado de sair do banho. Dave olhou para ambos os meninos do lado de fora e se apressou em abrir logo o portão, mas se embolou ao escolher a chave correta e deixou o molho cair no chão.
Kurt abaixou e pegou as chaves, dando-as na mão de Dave.

- Obrigado... – Disse o outro meio embolado e nervoso. Triste também seria a palavra certa. Abriu o portão, agradecendo por ter acertado a chave dessa vez.

Krist e Kurt seguiram Dave pela casa, passando por um corredor estreito até chega na garagem, a qual era maio que a casa inteira – até onde os meninos tinham conhecimento – e havia um fusca e uma moto estacionados. Sobrava ainda um espaço muito grande, onde tinha uma bateria e 3 amplificadores, não muito grandes, mas já era um começo.

Dave se sentou no banco da bateria e apoiou o cotovelo em um dos tambores, esperando os outros dois arrumarem os instrumentos e colocá-los em ordem. Procurava não olhar para Kurt, para não ter de lembrar daquele dia.

- Uma das vantagens de ser baterista. – Dave sorriu ao ver que Krist havia xingado o amplificador por não regular no volume certo, com qual ele queria.

Três horas após o ensaio...

- Puta que pariu. Vamos dar uma pausa, preciso descansar. Dave, tem alguma coisa de bom pra tomar? Uma cerveja cairia bem. – Krist passou a mão pela testa, limpando o suor e encostando o baixo na parede.

- Olha... a cerveja acabou hoje de manhã.

- Vou lá comprar umas latas. Me esperem. – Saiu da garagem.

Kurt se sentou encostado na parede, olhando para seus dedos.

Dave se levantou e começou a caminhar em direção à portão de saída da garagem. Não queria ficar no mesmo lugar que Kurt... poderia acontecer algo errado e não queria estragar a banda. Sentiu algo segurando sua camisa e se virou. Iria falar alguma coisa ou iria sair, deixando Kurt, mas ele começara a falar.

- Olha, me desculpa pelo que aconteceu lá em casa... Me desculpa pela minha mãe. – Passou a mão pelo cabelo, como se estivesse coçando ou procurando uma forma de falar. – Ela é assim... Não tenha uma visão errada de mim.

- ... – Dave suspirou. Não conseguia ficar assim com Kurt. – Olha, tudo bem... podemos esquec- – Foi interrompido por um beijo do loiro.

Krist apareceu na sala.

- Gente, não tinh-

Capítulo 7 - Smells Like Dirty



Kurt parou o beijo e se afastou num susto ao ouvir Krist chegando. Dave limpou a boca com a manga da camisa e voltou a se sentar na bateria sem olhar para o mais alto do grupo. Krist colocou a sacola com as latas dentro, no chão e olhou com o cenho franzido para os outros dois. Kurt não sabia que reação ter, por isso, somente colocou uma mão no bolso, pegou um cigarro e o acendeu, balançando a cabeça para tirar os fios de cabelo que o atrapalhavam.

- Cara... o que exatamente foi aquilo? – Krist cruzou os braços e se inclinou pro lado para ver Dave. – O que tá acontecendo nessa porra que eu não possa saber?

Dave suspirou, se encostou na parede já que a bateria ficava perto da mesma.

- Nós só nos beijamos. – Balançou a baqueta em direção à Kurt, o qual concordou com um aceno de cabeça.

Krist só prestava atenção nas trocas de olhares dos outros dois membros e não falava nada. Pegou três latas de cerveja e jogou uma pra cada, abriu a sua e tomou uns goles, colocou-a em cima do amplificador do baixo e pegou o instrumento, o ajeitou em seu corpo, esperando.

- Vamos repassar mais uma vez About a Girl? – Perguntou, pegando a lista de músicas que havia em cima de um dos tambores da bateria.

- Acho que poderíamos mudar umas coisas em Blew. – Disse Kurt, pegando a guitarra e se aproximando de Krist.

- Olha... eu sei que cheguei há pouco tempo, mas acho que Paper Cuts precisa de uma atenção especial agora. – Dave desencostou da parede. – A batida da bateria não soa legal ainda.

Krist e Kurt se entreolharam.

- O que foi?

- Ahm... você quem não está legal. – O loiro se apressou em falar, soprando a fumaça do cigarro para cima.

Dave pareceu meio desconfortável. Por parte, ele gostaria de voltar para sua antiga banda, onde conhecia os caras desde a infância, pois se sentia longe com o Nirvana. Ele gostava do vocalista e guitarrista, mas sentia que seu lugar não era ali. O Nirvana era ótimo, soava perfeito, mas tinha algo que o afastava. Não era do jeito que Krist e Kurt queriam que fosse?
Somente assentiu e olhou pra baixo. Colocou o pé no pedal do bumbo. O espantava a bipolaridade de Kurt, uma hora o estava beijando e outra falando que ele não era bom o bastante? Bem, uma coisa não tinha nada haver com outra.

- Vamos começar? – Perguntou.

- Pen Cap Chew. – Disse Kurt se posicionando e dando uma última tragada, depois jogou o cigarro no chão. Ninguém se opôs.

Nas 4 horas seguintes, o ensaio seguiu confuso e sujo – tanto o som, quanto a garagem em que estavam – o que era normal para Nirvana.

Quando terminaram, Krist e Kurt juntaram os instrumentos em um canto e o deixaram lá. Estavam saindo pelo portão de entrada e saída dos carros mesmo, para cortar caminho.

- Então... amanhã, né? – Perguntou Dave.

- Sim, no mesmo horário. – Disse Kurt, olhando pra trás uma última vez antes de ir pra rua e pegar novamente, um outro cigarro enquanto olhava pra lua que clareava metade da cidade.

Krist olhou para o loiro, se certificando que ele não ouviria nada e pegou o baterista pelo cotovelo o puxando para mais adentro da garagem, aonde Kurt realmente não ouviria.

- O que você acha que está fazendo, cara?! – Perguntou Krist. Segurando para não elevar o tom de voz. – Não me importa o que você está pensando, entendeu? Mas não faça mais isso. Kurt já tem seus próprios problemas, seus problemas consigo mesmo e isso já o tortura bastante pra ter outro problema na família e ainda mais no Nirvana. – Soltou Dave e suspirou, abaixando a voz mais ainda. – Você me entendeu?

Dave o olhou e assentiu com a cabeça, colocando a mão nos bolsos da calça de pijamas, a qual era meio desproporcional para seu corpo, sendo larga demais.

- Ótimo. – Disse o maior e saiu pelo grande portal de metal, indo pra rua e passando o braço em volta do pescoço de Kurt. Deixando a bicicleta.

Dave não sabia mais o que fazer. Fechou o portão e foi adentrando a própria casa, tropeçando em seus pés de tanto cansaço que o ensaio lhe propôs. Naquele momento, ele não queria mais o Nirvana.



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