Capítulo 1 - Introdução
Para Boddah,
Falando como um simplório experiente que obviamente preferiria ser um efeminado, infantil e chorão. Este bilhete deve ser fácil de entender.
Parei por alguns segundos e olhei para os lados, onde não havia ninguém. Li novamente a primeira frase daquele bilhete, eu queria ter a certeza de que o mundo entenderia que eu não estava bem para continuar com a banda. Continuei escrevendo algumas outras palavras e cheguei ao ápice do bilhete, onde eu finalmente começaria a explicar sobre o fim do Nirvana.
O fato é que não consigo enganar vocês, nenhum de vocês. Simplesmente não é justo para vocês e para mim. O pior crime que posso imaginar seria enganar as pessoas sendo falso e fingindo que estou me divertindo 100 por cento.
O que eu havia escrito dessa vez era a mais pura verdade, eu juro! Eu sempre fui um cara tímido o suficiente para não conseguir nem pensar quando eu estava cantando. Eu pensava que eu poderia esquecer alguma parte da letra em algum momento. Eu fumava muitos cigarros durante as horas que antecediam algum show e no mesmo, eu fumava o dobro. Era bom, me relaxava apesar de quase me incendiar, mas não era o suficiente. Matthew — meu terapeuta — havia me dado alguns comprimidos que me relaxariam. Mesmo depois disso tudo, eu não conseguia me divertir pois aquela depressão e preocupação com Frances estavam me matando por dentro.
Não tenho mais paixão, então lembrem, é melhor queimar do que se apagar aos poucos.
Eu me orgulhei da frase em que eu fecharia o bilhete. Eu realmente espero que todos os nossos fãs do mundo inteiro entendam como eu me sinto e entendam o sentimento que eu quis colocar naquela carta, que era o mesmo que eu colocava em minhas canções.
Paz, amor e empatia. Kurt Cobain.
Li novamente toda a carta e dei um largo sorriso, colocando-a ao lado e acendendo um cigarro. Eu estive deprimido, eu estive fugindo de todos, mas isso não significava que eu acabaria com tudo daquela forma. Ouvi algumas batidas violentas na porta e gritos vindo da mesma. Era Courtney. Abri a porta com toda a calma que eu tinha e olhei nos olhos da minha amada.
Ela me olhou sem nenhuma reação e deu um sorriso, me olhando de cima a baixo. Eu achava que no momento ela queria sexo e eu estava disposto a dar o que ela queria mesmo não estando afim. Ela deu um suspiro forte e sacou uma arma. Porra! O que diabos aconteceu?
Capítulo 2 - A Despedida
Ei ri daquela situação no momento em que eu vi a cara de Courtney. A maquiagem borrada e as mãos tremendo enquanto seguravam a arma, o cabelo todo bagunçado... Fala sério, foi engraçado! Sentei-me na cadeira no canto da sala, cruzei as pernas e ascendi um cigarro. Dei a primeira tragada pensando no que dizer a ela, eu estava mesmo segurando uma risada alta naquele momento.
— Tudo bem, Courtney, que piada é essa? — debochei, começando a rir.
— Por que você está rindo? — ela bufou — não é engraçado, eu vou te matar aqui e agora!
— Tudo bem... tudo bem... — ri novamente, apagando o cigarro no cinzeiro da mesa de centro e indo até ela.
Peguei a arma gentilmente de suas mãos e sussurrei um "você não vai, baby" em seu ouvido. Dei um beijo em seus lábios e me afastei lentamente ainda com a arma na mão. Parei por um segundo, olhei todo o resto e Courtney ainda me fitava com aqueles olhos doces que fizeram eu me apaixonar por ela na primeira vez. Coloquei lentamente a arma na minha cabeça e quando eu ia fazer aquele disparo, Courtney afastou a arma da minha cabeça e me abraçou.
— Não... — ela começou a chorar — não faça isso...
— Ué — eu ri — não era você quem queria me matar?
— Talvez — ela limpou as lágrimas e me olhou séria — Mas não sou eu quem vai fazer isso. Dylan, pode entrar.
Dylan Carlson era um moreno de olhos cor-de-mel e que também era o ex-namorado de Courtney. Ela foi até ele, dando um beijo em sua boca e eu olhei para o lado. Estava tudo acabado. Ronald pegou uma seringa no bolso de seu paletó e foi até mim, eu não poderia lutar, eu não poderia fazer nada.
— Dylan! — Courtney chamou.
— O que? Já desistiu? Lembre-se: eu tenho muito mais dinheiro do que ele!
— Claro que eu não desisti. — ela sorriu maliciosamente, me deixando em estado crítico — Deixa que eu faço isso.
Courtney cumpriu o prometido. Veio até mim com a seringa com algo parecido com uma quantidade enorme de heroína e injetou em mim. Aos poucos, fui ficando cada vez mais fraco até que finalmente caí morto no chão.
Por que eu estava vendo aquilo? Acho que eu não deveria mais estar aqui, por que eu consigo me ver no chão? Olhei para Courtney que agora, estava aos beijos com Dylan e lágrimas caíram em meu rosto. Era terrível ver a pessoa que você mais ama em todo mundo, nos braços de outra. Olhei para baixo e coloquei a mão no bolso do meu casaco, meus cigarros e meu isqueiro continuavam ali. Será que eu poderia fumar depois de morto? Ascendi um cigarro e olhei para frente novamente e vi Courtney se soltar de Dylan.
— Ele era suicida. — ela disse.
— E o que eu tenho a ver com isso? — Dylan perguntou.
— A gente tem que fazer parecer que foi suicídio, seu babaca!
Ela começou a mexer em meu corpo, colocando um braço em cima do meu peito, fazendo-me segurar aquela arma que ela havia apontado para mim. Ela leu um pouco da carta que eu havia deixado em cima da mesa e colocou-a em cima da mesa, embaixo de um vaso de flores e jogou uma caneta ali. Eu não aguentava ver aquele tipo de coisa, então eu saí do quarto e fui até a floresta.
Eu estava morto. Não por dentro, agora eu estava morto de verdade. Eu apenas não consigo entender o por que de eu não ter ido para o céu... ou para o inferno, se essa fosse a vontade de Deus. Aquela situação era muito agoniante, eu não poderia mais ver a minha filha e Courtney havia feito aquilo por dinheiro. Toda a estadia dela ao meu lado havia sido por dinheiro. Eu preciso entender mais sobre o passado dela, eu irei descobrir tudo isso, não importa quanto tempo eu precise gastar.
Depois de algumas horas, voltei para a sala e Courtney e Dylan já haviam terminado de arrumar meu corpo e já haviam ido embora. Eu queria saber como Frances ficará depois de alguns anos sabendo que seu pai se "suicidou". Sentei-me ao lado e fiquei olhando meu corpo jogado daquela forma, ascendi um cigarro e comecei a mexer em meu corpo, olhando algumas coisas. Me abaixei próximo de minha cabeça e havia uma perfuração na mesma. Pelo visto, além de ingerirem heroína no meu corpo, deram um tiro também. Não havia sangue no chão, comecei a pensar que a bala poderia ter ficado presa dentro do meu cérebro. Sentei-me novamente na cadeira e ali fiquei, sem saber o que fazer.
Três dias depois...
É mesmo possível que uma alma ou o que quer que eu seja agora consiga dormir? Eu havia feito isso e até que foi engraçado. Ouvi batidas na porta...
— Senhor Kurt? Estou aqui para instalar o sistema de luzes! — ele gritou.
Fui andando até a porta e esperei mais um pouco.
— Senhor Kurt? — o homem me chamava sem parar até que finalmente decidiu abrir a porta. — What the fuck? — ele correu até o meu corpo e eu me afastei um pouco — Senhor Kurt? Senhor Kurt? Meu deus! Chamem a ambulância! CHAMEM A AMBULÂNCIA! — Ele gritou e vi alguns de seus ajudantes entrarem.
— O que aconteceu?
— APENAS CHAME A DROGA DA AMBULÂNCIA!
— Alô? é da ambulância? Há um homem morto aqui! O endereço? é... — o ajudante citou o endereço.
Alguns minutos depois....
— Onde está?
— Ali, senhor! — O homem disse.
— Puta que o pariu, é o Kurt Cobain! — um dos paramédicos disse.
— Meu deus... ele se matou?
— Eu não sei... — o ajudante disse.
O homem andou por toda a sala, olhando todos os cantos, provavelmente tentando achar alguma coisa que pudesse dizer o que aconteceu. Andei para perto dele, olhando tudo que ele olhava.
— Merda! — ele pegou a minha carta em cima da mesa e começou a ler, os paramédicos já estavam saindo com o meu corpo — Acho que ele se matou.
Uma hora depois...
Eu havia acompanhado meu corpo até o jardim e vi muitos carros de polícia chegarem. Aquele tumulto todo havia atraído jornalistas que rapidamente haviam escrito em seus jornais que eu havia me matado. Muitos fãs do Nirvana já estavam na calçada esperando mais notícias sobre o que aconteceu.
— Senhoras e senhores... sua atenção por favor. — Um oficial de polícia disse e ele logo continuou. — De acordo com as testemunhas que encontraram o corpo de Kurt, ele se suicidou. Mas, encontramos aqui uma carta que ele havia escrito e há algumas partes que eu gostaria de citar a vocês como homenagem a vosso ídolo morto. — Ele pegou a carta que estava embrulhada em uma sacola transparente de plástico.
— "O fato é que não consigo enganar vocês, nenhum de vocês. Simplesmente não é justo para vocês e para mim. O pior crime que posso imaginar seria enganar as pessoas sendo falso e fingindo que estou me divertindo 100 por cento. Às vezes acho que eu deveria acionar um despertador antes de entrar no palco." — Ele passou o bilhete para outro oficial e abaixou a cabeça.
— "Eu sou mesmo um bebê errático e triste! Não tenho mais paixão, então lembrem, é melhor queimar do que se apagar aos poucos. Paz, Amor, Empatia. Kurt Cobain."
Capítulo 3 - Minha Garota
Deixei todos os fãs aos prantos na porta da minha casa juntamente com os policiais. Eu havia chorado também, eu estava começando a ficar deprimido e precisava sair dali. Eu fui até o apartamento do Dave, andei todas aquelas escadas até chegar a porta e fitei a mesma antes de tentar abri-la. Estava trancada. Fui até o extintor de incêndio e peguei a chave que Dave guardava ali. Dave era muito esquecido, ele sempre esquecia onde colocava suas baquetas, como não poderia esquecer onde deixou as chaves de casa? Abri a porta lentamente, mas não havia ninguém lá.
Provavelmente eu não poderia falar com Dave ou deixar alguma mensagem em seu gravador que estava em cima da mesa, eu nunca saberia se ele conseguiu entender o que eu disse. Além do mais, o que eu diria? "Ei, Dave, aqui é o Kurt. Então, eu passei na sua casa pra deixar essa mensagem pra te dizer que foi a Courtney que me matou, ok? Ok!". Isso soou engraçado em minha mente.
Olhei toda a sala novamente, procurando por uma folha e uma caneta. Achei um caderno com um endereço escrito e vi que era o endereço do apartamento em que Courtney morava antes de se casar comigo. Droga, acho que Dave fará algo.
Sai do apartamento rapidamente, tranquei a porta e deixei tudo em seu devido lugar. Eu não poderia pegar nenhum tipo de transporte, então eu fui correndo mesmo. Cheguei até o apartamento e o porteiro não estava no lugar em que sempre ficava, então eu saí entrando. Corri escadas a cima e ouvi alguns barulhos vindo do outro lado da porta de Courtney. Alguns barulhos não, muitos, muitos barulhos. Abri um pouco a porta e olhei para frente e me surpreendi com o que eu estava vendo.
Eu não acredito, eu não consigo acreditar nisso. Ele não fez isso, como ele poderia? Ele ficaria quanto tempo na prisão por isso? Provavelmente mais de 8 anos. Eu estava muito preocupado, eu não sabia o que eu poderia fazer naquela situação. Dave. Sangue. Faca. Courtney. Chão. Sim, galerinha, é exatamente o que vocês estão pensando.
Minutos antes...
Dave invadiu o apartamento de Courtney, amarrou-a, eu pude ouvir seus gritos por socorro e Dave chorando.
— Sua vadia. — ele fez uma pausa — Eu não acredito que você foi capaz de matar o pai da sua própria filha! — Ele deu um tapa forte na cara dela, seguido de alguns socos que rapidamente deixaram a face de Courtney mais vermelhas do que as maçãs mais brilhantes.
Com aquele tapa, até eu senti a dor. Courtney chorava e dizia que não havia sido ela. Dave foi até a cozinha e pegou uma faca, daquelas enormes. Com apenas um golpe, tudo acabou.
Minutos depois...
Dave. Sangue. Faca. Courtney. Chão. Sim, galerinha, é exatamente o que vocês estão pensando.
Dave por fim sentou-se no sofá olhando para o sangue respingando diretamente do corpo de Courtney. Sentei-me ao seu lado, ele não poderia me sentir, não é mesmo? Toquei sua mão, a que estava repousada no sofá logo ao meu lado. Ele sentiu. Ele puxou rapidamente sua mão, mas colocou-a no lugar em que estava, olhando sem entender. Toquei sua mão novamente mas ele não a puxou.
— Mas o que caral... — ele olhou para a direção em que eu estava e ficou com aquela típica expressão de pânico. Eu não estava entendendo mais nada. — K-K-... — ele mal conseguia completar — Kurt?
— Hã? — eu disse, ele estava me vendo? — Você pode me ver?
— Sim e sentir também! — ele me olhou com os olhos cheios de lágrimas. — Me diz que isso não está acontecendo, diga que é um sonho... — ele chorou.
Você já viu o seu melhor amigo chorar? Seu melhor amigo de quase uma vida inteira? É a pior coisa do mundo, ainda mais quando o motivo é você ou pior: quando o motivo para ele estar chorando é a sua morte. É nesse momento — enquanto ele chora — que você percebe a importância que você tinha.
— Eu queria, Dave... Eu queria... — algumas lágrimas desceram do meu rosto e sequei-as rapidamente. Eu não sabia quanto tempo minha alma estaria disponível para Dave sempre que ele sentisse minha falta. Ele não me veria nunca mais. Nem ele... nem Krist... nem meus fãs... nem minha filha. Minha filha... como ela ficará? Como ela crescerá sem pais? — Mas Dave... temos que sumir com esse corpo.
— Primeiro, meu abraço! — ele me abraçou fortemente e ficamos assim por muito tempo. — Você é uma alma, agora, Kurt, que mulherzinha! — ele riu.
— Eu juro que preferia ter virado um demônio! — eu ri também.
Dave se levantou e pegou uma sacola preta que havia na cozinha. Uma sacola de lixo afinal, onde mais Courtney deveria ficar? Colocamos o corpo de lado e passamos o resto do dia limpando o sangue do chão e cantando. Mesmo depois de morto, é possível ser feliz.
Mais tarde...
Dave pegou um carro e eu tratei de dar alguns socos em alguns caras que passavam na frente do prédio, a minha sorte era que a rua estava um pouco vazia. Ele pegou as sacolas e colocou primeiro a que estava o corpo de Courtney.
— A segunda deixe comigo — eu disse.
— Tudo bem.
Sentamos no carro e fomos para uma floresta que havia na cidade vizinha. Ao chegarmos, colocamos o corpo de Courtney no chão e ascendemos um cigarro.
— Dave, deixa que eu acendo.
Ele me jogou a caixinha de fósforos e com todo o prazer do mundo e um sorriso em meus lábios, ascendi e joguei no corpo de Courtney. Ficamos olhando-o se queimar por alguns minutos e voltamos para o carro. A estrada até a nossa cidade era enorme.
— Kurt, você queimou a cabeça? — Dave perguntou.
— Não... — respondi cuidadosamente.
— Por que?
— Lembra da música Where Did You Sleep Last Night?
— Sim, claro, tocamos ela no Unplugged.
— Sim... Eu escrevi essa música para Courtney porque ela havia passado a noite fora e eu não conseguia encontra-la. Procurei ela em todos os cantos da cidade com Frances em meu colo.
— Ela provavelmente estava se tornando a puta do Dylan mais uma vez. — Dave riu.
— Ele terá seu castigo. Deus o castigará.
— Sim, ele vai.
— My girl, my girl, don't lie to me, tell me where did you sleep last night — comecei a cantar — Her husband, was a hard working man.
Dave ria enquanto eu cantava pois eu fazia algumas caretas. Cheguei ao verso de "Just about a mile from here" e joguei sua cabeça na estrada. Eu não estava nem ai se o encontrariam pois Dave e eu queimamos o corpo daquela vadia juntamente com a faca que Dave usou para dar uma de Samurai Jack e matá-la. Eu quero que ele me dê essas aulas de Samurai, estou precisando, HAHA.
"A quase uma milha daqui, sua cabeça foi achada na estrada mas seu corpo nunca foi encontrado." — (1:30, mtv Unplugged)
Capítulo 4 - Aquele que está ao seu Lado
"Encontrada cabeça na estrada com arranhões! Aparentemente, alguém matou uma mulher loira e jogou sua cabeça na estrada. Não é chocante? O corpo não foi encontrado. A polícia continua investigando o caso."
É isso. Ela se foi, finalmente. Eu e Dave nos livramos de quem se livrou de mim. Mas... e Frances? Com quem ela ficaria? Eu estava sentado aqui nesse mesmo lugar quando Courtney me ligou dizendo que estava grávida dela e agora, aqui estou eu pensando em como ela ficará sem os pais por perto. Bom... Eu estou aqui... Courtney está no inferno. Eu não conseguia parar de pensar e senti um cutucão:
— Kurt? — ele me cutucou novamente e dirigi o olhar a ele — E Frances?
— Era exatamente o que eu estava pensando...
— E Krist?
— O que tem ele? — perguntei.
— Não tenho o visto a um mês. Você o viu antes de morrer?
— Eu não o vi antes e nem depois disso.
— Acho que ele vai parar de tocar.
— Eu também acho isso. — fiquei pensativo.
— Acha que ele cuidaria de Frances?
— Acho que sim.
— Quer que eu ligue para ele? — Dave perguntou, já procurando um telefone e a agenda onde estava escrito o número de Krist.
— Claro.
Me levantei e fui até a cozinha. Abri a geladeira e dei uma boa olhada. Só havia comida velha na geladeira de Dave, eu não sabia como ele se alimentava. Acho que ele vivia comendo em restaurantes e fast foods. Peguei a garrafa de água e enchi o copo e bebi. Sim, espíritos podem comer e beber normalmente, haha!
— Alô?
— Alô? Dave?
— Krist! Onde você está? Eu não vejo você a um mês...
— Eu viajei e quando voltei, Kurt havia morrido. Vendi minhas coisas e jurei que não tocaria mais, principalmente agora que meu melhor amigo se foi.
— Eu sabia que diria isso. Krist, tem como você vir aqui em casa agora? Eu preciso conversar com você.
— Sobre o que?
— É algo complicado, é melhor você vir logo!
— Sim, claro, eu vou agora. Tchau!
Ele desligou. A essa altura eu já havia voltado para a sala com a garrafa e o copo de água ainda em mãos, oferecendo a Dave, que encheu e bebeu rapidamente.
— Ele está vindo, Kurt.
— O Krist? Você vai pedir a ele para cuidar da Frances?
— Sim. Você vai deixá-lo te ver?
— Acho melhor não...
— Tudo bem, faça como achar melhor.
Ficamos em silêncio e ouvimos batidas na porta. E um chamado. Era Krist. Dave segurou a maçaneta da porta e olhou para mim, eu estava nervoso. Ele abriu calmamente a porta e deu um abraço forte em Krist.
— Krist! Me dê um abraço! — Eles se abraçaram e eu levantei. Eu queria abraçar o Krist, mas acho que não era a hora.
— Dave! — ele riu — O que queria falar?
— Primeiro... acho melhor você se sentar. É uma longa história.
— Tudo bem.
Ele se sentou e Dave contou tudo o que havia acontecido, mas me tirando da história. Ele dava alguns olhares para mim e fez um sinal discreto para que eu me sentasse perto deles e foi o que eu fiz. Ouvi atentamente a versão que ele havia inventado. E finalmente...
— Você matou ela? Dave, você é louco?
— Não se preocupe, eles não me encontrarão! — Dave se referia as tiras... opa... policiais.
— Tudo bem então... Era isso que queria contar?
— Não... eu queria pedir pra você cuidar da Frances até ela ficar mais velha. Mas nunca enconda o que aconteceu com seus pais, apenas diga com palavras que não sejam brutas.
— Eu? Cuidar de uma criança de um ano?
— Sim... Krist, você tem espírito paterno! Por favor... eu não posso cuidar porque eu tenho coisas a resolver, restou você e você é perfeito para o papel.
— Tudo bem... Eu vou.
Vinte anos depois...
Muitos anos se passaram desde minha morte e cá estou eu. Eu nunca deixei a casa do Dave, ele não a vendeu, mas Dave casou-se e formou uma nova banda. Eu queria poder estar junto a ele no Foo Fighters mas... morto? É impossível. Eu sempre vou a casa de Krist para vê-lo e ver Frances. Mas Dave não vem aqui a mais ou menos um ano. Ele está ocupado com sua agenda de shows, mas sempre que pode envia alguém para colocar comida na geladeira e arrumar a casa.
"Limpe e encha a geladeira para um ano, um amigo meu irá morar lá.", ele diz. A faxineira não reclama e não acha estranho que ela limpe a casa e faça alguma comida para uma pessoa que ela nunca conseguirá enxergar. A comida é boa, a cada é boa, minha cama é macia. Tudo é muito bom, mas me sinto solitário.
Olhei para a faxineira no quarto em que ela estava faxinando e fui até a lavanderia. Peguei algumas roupas que tinham lá e fui para o banheiro, tomar um banho. Curioso, não é? Fantasmas também podem tomar banho! — (risadas).
— Senhor? — era ela. Não respondi. — Eu terminei de fazer o almoço e limpei a casa como o senhor Grohl pediu. Estou me retirando agora. — ela foi embora.
Continuei meu banho e vesti minha roupa. Fui até a cozinha e comi o almoço que ela havia deixado. Sentei-me no sofá da sala e ascendi um cigarro. Uma ideia havia iluminado minha cabeça.
5 de abril de 2014, 17hrs, Las Vegas — Frances Been Cobain, 22 anos ~ POV.
Então... é isso. Hoje fazem vinde anos que papai morreu. Vinte anos que não vejo seu rosto, vinte anos que não faço carinho até ele dormir. Eu tinha apenas dois anos de idade mas eu sabia o que eu estava fazendo. Eu via em papai uma aura brilhante, a aura de um herói. Ele era um herói para mim e mamãe. Tio Krist tem cuidado de mim perfeitamente e nunca deixou faltar-me nada. Eu amo papai e mamãe mas eu prefiro que as pessoas pensem que sou filha do tio Krist. É isso que eu digo e é assim que me matricularam no colégio e na faculdade.
"Frances Dilley Novoselic", era meu novo nome. Tio Krist e Shelli Dilley não estão mais juntos, mas Shelli é minha mãe. Acho que quando tio Dave pediu para que tio Krist cuidasse de mim, pediu também para que me registrassem assim e então, tio Krist casou-se com Shelli.
Tio Krist tem feito muito por mim durante todos esses anos. Quando sofri de depressão e anorexia, lá estava ele me apoiando. Quando fui crescendo, aos poucos contou-me o que havia acontecido com papai e mamãe. Mamãe era insuportável e papai era inocente. Mamãe matou papai. Tio Dave matou mamãe. Ainda bem que nunca descobriram isso, tio Dave poderia estar na cadeia durante os últimos anos e eu não o veria e não aprenderia a tocar bateria e guitarra com ele.
*Celular tocando*
— Alô?
— Ok! Me diga que você sabe quem é!
— TIO DAVE! — eu comecei a gritar e rir da voz fina que ele havia feito.
— Como está, princesa? — ele perguntou.
— Estou bem... Tio Dave, estou com saudades, não pode vir me ver?
— Pensando bem... por que você não vem passar alguns dias com seus primos e sua tia? Eu estou de férias e podemos passar algum tempo tocando. Você é bem-vinda nos ensaios da banda, loirinha!
— Tudo bem, quando tio Krist chegar, falarei com ele, hm?
— Sim! Eu preciso desligar. Eu amo você!
— Eu também! — ele desligou e sorri do outro lado da linha.
Já passaram-se três anos desde a última vez que vi tio Dave e eu realmente estava com saudades. Na última vez que nos vimos, saímos eu, ele e Violet para pescar. Ophelia e tia Jordyn ficaram na casa de campo cozinhando. Harper ficou na casa assistindo desenhos. E então, tio Dave, eu e Violet voltamos para casa para almoçar. Almoçamos todos juntos e tio Dave cantava entre as garfadas, o que fazia toda a família rir. Eu amava essa lembrança. As vezes sinto-me como uma criança de 5 anos, assim como Harper. Apenas de eu ter uns 19 anos quando fazíamos essas coisas.
— Frances? Cheguei! — era ele.
— Tio Krist, tio Krist... — abracei-o. Quando eu abraçava tio Krist ele sabia que eu queria algo e ele sempre permitia.
— Diga, pequena — ele fez alguns carinhos na minha cabeça.
— Tio Dave pediu para que eu fosse em sua casa, passar um tempo com minhas primas e tia Jordyn. Posso ir?
— Oh... Claro! Mas com uma condição — ele fez suspense e me olhou sério — eu quero ir também!
— Tudo bem, coloco você em uma mala. Tio Dave vai amar vê-lo!
Ainda 5 de abril de 2014, 19hrs, Seatle — Kurt Cobain ~ POV.
*celular tocando*
— Alô?
— Kurt!
— Dave, como está?
— Estou bem... Olha, acho que está na hora de você aparecer de uma vez!
— O que? Está louco?
—Não Kurt... é sério! Você já viu Frances depois de todos esses anos?
— Eu não tive coragem de ir até lá...
— Então por favor... venha para cá! A Frances está vindo passar um tempo conosco, venha também!
— Eu não posso...
— PODE SIM — ele começou a gritar — AGORA ARRUME A DROGA DAS MALAS E VENHA PARA CÁ.
— Tudo bem.
Ele desligou. Droga, o que vou fazer?
Alguns dias depois...
Aqui está ela. Linda, crescida... está tão adulta. Eu comecei a chorar no instante em que vi o perfeito estado em que Frances se encontrava. Ela era uma mulher maravilhosa e era exatamente como eu era nos anos noventa.
— Frances... posso conversar com você?
— Claro, tio Dave. O que foi?
— Sente-se. — Ela obedeceu e Dave fez um sinal para que eu sentasse do lado dela, o que eu fiz.
— Tio Dave, quem é ele?
— Quem? — Dave estranhou, só estávamos nós três e até aí ele não havia contado que ela poderia me ver.
— Esse homem loiro ao meu lado. — ela me olhou de cima a baixo e sussurrou um "oi".
Ela estaria me vendo? Ela saberia que eu era o pai dela? Eu não acho que ela diria "homem loiro" e sim "o que papai está fazendo aqui?". Eu não estava entendendo mais nada.
Capítulo 5 - Anjo
Eu continuei sem entender um pingo do que estava acontecendo. Ela estava realmente me vendo? Ou eu... de alguma forma... fiquei visível para ela e não notei? Eu realmente não consegui entender nada. Ela abaixou a cabeça pronta para dizer algo.
— Por que vocês estão me olhando como se eu fosse louca? — ela perguntou, ainda com a cabeça baixa.
Dave olhou para mim sem entender e eu fiz um sinal para que ele contasse logo quem era. Mas a pergunta é: Ela vai acreditar?
— Frances... — ele começou, fazendo uma pausa e sentando-se ao lado dela — Esse homem loiro...
— Ele é o meu pai... né? — Ela levantou a cabeça e olhou para Dave. Suas bochechas estavam coradas e seus olhos estavam começando a se encher de lágrimas.
Olhei para o lado e uma lágrima caiu, resultando em um choro soluçado. Eu sai de perto deles e senti os olhos de Frances em mim enquanto eu caminhava. Senti um toque em minha mão, era ela, sorrindo novamente. Limpei as lágrimas em meu rosto e soltei sua mão gentilmente. Continuei andando para a janela.
— Sim... — eu ainda conseguia ouvir o tom da voz de ambos os dois. — Ele é o seu pai.
— Mas tio Dave... — uma lágrima escorreu em seu rosto — Como é possível?
— Eu não sei, princesa — olhei para trás e Dave abraçou Frances. Aproximei-me e fiquei parado em pé. Eu finalmente diria algo.
— Frances... — eu comecei, mas minha voz se recusava a sair direito. Fui interrompido por um abraço apertado de Frances.
— Papai... — ela começou a chorar em meu ombro — Queria tanto poder ter crescido com o senhor ao meu lado. Em carne e osso.
— Eu também queria isso, princesa. — abracei-a mais fortemente e olhei para Dave, soltando um sorriso. Dave se retirou da sala.
~Dave POV's~
Sentei-me no corredor, ouvia a voz de Frances que, apesar de ter vinte anos, parecia a voz da pequena menininha que eu vi nascer e crescer. Eu coloquei a mão no rosto, tentando secar as lágrimas de emoção que escorriam violentamente sob meu rosto, deslizei a mão em meu cabelo, colocando-o para trás quando ouvi alguns passos. O homem alto olhou-me de cima e eu não consegui reconhecer quem era, até ele abrir a boca.
— Dave? — ele sussurrou.
— Krist? — eu disse gritando, para que Frances e Kurt pudessem ouvir que ele estava ali.
Tentei distraí-lo o máximo que pude, mas eu estava curioso para saber se Kurt o queria ali, saber se Kurt apareceria para Krist. Acho que de todos nós, quem mais precisava disso era ele.
~Kurt POV's~
Eu não havia mais ouvido a voz de Dave no corredor até eu ouvir seu grito de gazela ao dizer "Krist!". Dave e Krist sempre foram muito gays, se agarrando sempre que podiam e aposto que era exatamente isso que estavam fazendo naquele momento. Eu não sabia se eu dizia para Frances me soltar e fingir que nada havia acontecido ou se eu deixasse ela agarrada em mim e dissesse para ela que iria contar ao Krist.
— Krist chegou...
— Tá tudo bem, papai — ela secou algumas lágrimas que estavam caindo novamente — você devia contar a ele que você está aqui.
— Eu sei disso, meu anjo... — olhei de Frances para a janela e comecei a pensar bastante. Deus! Eu queria tanto estar vivo para ser mais seguro de mim mesmo.
— Papai... — ela sussurrou — Tio Dave e tio Krist estão vindo... Você vai contar? — ela me soltou, fazendo uma carinha de "por favor, papai" — Tio Krist sente muita saudade de você, ele sempre me conta as histórias de vocês juntos.
— Como quais? — perguntei, curioso.
— Como quando você estava no colégio e queria conhecê-lo, mas tinha vergonha. Você gravou várias fitas e deu um jeito de deixar com ele até que ele ouvisse e viesse falar com você. — ela sorriu.
— Eu gravei muitas fitas! — eu ri moderadamente — Eu me lembro de sentir vergonha quando Krist disse "você devia montar uma banda!". Lembro-me que eu queria socar a cara dele e dizer "você não entendeu o recado, eu quero montar uma banda com você!". — eu ri novamente.
Dave entrou na sala e Krist logo atrás, me levantei do sofá e fiquei em pé, atrás de Krist. Finalmente Krist, Dave e Frances se sentaram.
— Estava chorando, Fran? — Krist perguntou.
— Não... — ela disse, reprimindo as novas lágrimas que teimavam em descer de sua face — Está tudo bem! — Ela sentou-se no sofá a frente dos tios mais velhos, tirou sua carteira de cigarros do bolso e ascendeu um.
Eu sabia que Frances fumava e eu não era contra isso. Apesar dos cigarros serem péssimos para a saúde, eles sempre me relaxavam e talvez ela estivesse tensa o suficiente para precisar ascender um. Saí da sala e fui até a varanda, eu também precisava relaxar um pouco.
~Dave POV's~
— Então... Frances... Aquela coisa... Como irá ficar? — perguntei, fazendo gestos para que ela entendesse o que eu realmente queria dizer.
— Eu não sei... — ela sorriu e deu mais um trago no cigarro.
Nesse momento, Frances abaixou a cabeça loira, olhando fixamente para algum ponto no chão. Ela continuava a fumar e aquilo era um tanto assustador. Kurt fazia isso quando estava fumando com a gente. Ele fazia exatamente o que ela estava fazendo. Eu sorri, novamente.
— Krist... — sussurrei e apontei para Frances.
— Meu deus! — ele riu um pouco.
— O que? — Frances levantou a cabeça curiosa para saber do que estávamos falando.
— Seu pai fazia exatamente o que você está fazendo. Ele fumava um cigarro, abaixava a cabeça e olhava para um ponto fixo no chão.
— Sim... é como se estivéssemos... olhando para Kurt. — eu completei e ela sorriu.
— É bom saber que eu lembro o papai. Muitas pessoas que me param na rua dizem que ele era uma ótima pessoa, que tinha um bom coração. É um orgulho ter o mesmo tipo sanguíneo que Kurt Donald Cobain. — ela sorriu e olhou para o corredor. O pai estava lá, nós estávamos o sentindo. Mas Krist não podia vê-lo.
Ele abaixou a cabeça e andou um pouco mais a frente. Ele apagou o cigarro e olhou de Frances para mim, eu sorri. Ele olhou para Krist, que me olhava sem entender nem um pingo do que estávamos olhando. Eu acho... que agora... ele realmente irá contar.
Capítulo 6 - Confissão
~Kurt POV's~
Eu não fazia a mínima ideia do que eu poderia fazer naquele momento. Eu simplesmente tocaria no Krist e diria "Hello, motherfucker"? Eu simplesmente tocaria e tentaria me esconder? Eu simplesmente tocaria e começaria a cantar? Minha mão e minha boca estavam tremendo, eu teria que falar rápido. Krist nunca acreditou que as almas poderiam continuar andando por aí, como diabos ele acreditaria nisso? Olhei para Dave:
— Eu não consigo...
Dave olhou bravo para mim e fixou os olhos em Frances. A mesma estava com os olhos em mim todo o tempo e me chamou de "covarde", sussurrando. Como aquela garota poderia falar aquilo do próprio pai? E além do mais...
— Krist, o Kurt está aqui.
— O que? — Krist e eu dissemos em coro, mas Krist não podia me ouvir ainda.
Dave realmente havia simplesmente dito, ignorando todos os meus protestos de que aquela não seria a hora certa para contar? Que eu não estava pronto? Que eu estava quase tendo um filho e que meu coração estava batendo muito forte?
— Vamos lá, ela se parece com ele, mas nem tanto... — Krist riu.
— Esse bastardo... — Frances virou a cara.
— Krist, olha aqui... Eu sei que você entende isso tudo de espíritos andando na terra — ele balançou os dedos no ar em tom de brincadeira — mas eu estou dizendo: Kurt está aqui, ele está bem do seu lado implorando para que eu cale a minha boca. Adivinha? Como sempre, Kurt está sendo tímido. A diferença é que agora os remédios e os cigarros não têm mais efeito sobre ele já que agora ele é só uma alma andando por aí. — ele me olhou — Claro que é melhor ter você assim do que nunca poder te ver! Você sabe que eu te amo, né?
— Sim... — eu ri e sentei-me ao lado do Krist. Minha timidez se foi de uma forma tão rápida que eu coloquei meu braço direito sobre os ombros de Krist, envolvendo-o em um abraço. Deixando assim, ele me tocar, me ver, me sentir e me ouvir. Olhei para o mesmo, eu ainda estava com medo, seus olhos estavam arregalados. — Wassup, bro?
Dave começou a rir. Frances deu alguns pulos e abraçou Dave. Krist me olhou por algum bom tempo. Um tempo tão cumprido que eu fiquei tímido com a forma como ele estava querendo me matar com os olhos. Ou seria apenas a face brava dele tentando me enganar? Levantei-me e me sentei ao lado de Dave, ali fiquei.
— Kurt... como isso aconteceu?
— Eu não sei... Acho que Deus me deu uma segunda chance.
— Deus? Kurt, desde quando você... — ele se interrompeu e coçou a testa, fechou os braços e me olhou seriamente — Vem aqui.
— Pra que, não é pr...
— VEM AQUI, KURT. — ele gritou e todos olhamos para ele assustados. Ele era mais velho, seria falta de respeito ignorar uma ordem de um senhor (risos).
Ele me abraçou mais forte do que Dave da primeira vez que me viu. Krist sabia que Dave e Frances podiam me ver. Krist sabia que Dave me sentia a muito tempo e que Frances havia me conhecido naquela tarde. Entrei nos pensamentos de Dave e pude perceber tudo isso. Pude perceber que suas inseguranças e sua saudade estavam indo embora.
Capítulo 7 - O Clarividente.
Dois anos depois...
Então, era isso. Aqui estamos mais uma vez numa tentativa fracassada de resolver tudo o que estava acontecendo quanto à minha morte. Meu Deus... Eu ainda estava tão preocupado se descobririam o que Dave fez por mim. E estava preocupado com Frances, principalmente agora que eu sabia que ela fuma muito mais até do que eu. Eu estou tentando aceitar, eu nunca fui um bom exemplo e mesmo que eu me mostrasse para ela, ela nunca me ouviria e talvez, nem ao menos acreditaria em tudo o que temos a contar. Courtney realmente conseguiu foder com a vida de muita gente quando me matou. Dave esteve agindo como um verdadeiro psicopata, vampiro, sedento por sexo. Krist está suicida, ele está extremamente deprimido mesmo tendo-se passado tantos anos das coisas que aconteceram. Eu não sei onde caralhos está o homem que ajudou Courtney a me matar. Talvez ele estivesse jogado nas ruas atrás de drogas novamente, aquilo não era novo para mim. Eu juro que eu não sei mais o que fazer a partir daqui. Eu sinto saudades de tocar minha guitarra, de gritar, de cuspir nas câmeras. Eu infelizmente não poderia mais continuar fazendo tudo isso. Só de pensar que toda essa situação se iniciou por eu querer acabar com a banda, eu me sinto até culpado.
Agora, aqui estamos nós. Eu, Dave, Krist e Frances, esperando ansiosamente com nossos corações na mão que essas malditas gravações de depoimentos se iniciem de uma vez. Estou com fome. Estou cansado. O diretor veio a pouco até nós pedir para que esperemos apenas mais cinco minutos. Ele não se tocou ainda que se passou uma hora desde que ele falou essas mesmas palavras? Eu não aguento mais esperar pela apuração dos fatos. Mal posso esperar para assistir esse documentário que até agora, não disseram o nome para nós. Eu só sei que o diretor prometeu a Dave que faria com que todo o mundo soubesse da verdade. Antes tarde do que nunca.
— Muito bem, muito bem, vamos lá. Eu sei que todos estão ansiosos pelos seus depoimentos, mas antes precisamos conversar um pouco sobre como será o "Soaked In Bleach". — ele disse, suspirando — Apenas digam toda a verdade enquanto estiverem sendo filmados, tudo bem? Não mintam e não aumentem a história. E pelo amor de deus: Se alguém souber o que caralhos aconteceu com a Courtney, diga. Estamos todos curiosos.
Todos balançaram as cabeças de um lado a outro simbolizando que "não". Não, nós não poderíamos contar o que Dave fez com risco de Dave ir preso, já que a justiça só atua quando quer. No caso de Courtney, se Dave não agisse, ela teria pagado aos policiais para não ir em cana. É bem do feitio dela. A essa altura do campeonato, Frances já sabia de tudo. Tudo não... Ela não sabia que seu pai estava ao lado dela o tempo todo. Não sabia que seu pai cuidava dela ao lado do tão amado "tio Krist". Confesso que eu sentia um pouco de ciúmes de todo amor e zelo que ela tinha por ele, mas ele merecia depois de tanto sofrer por minha morte. Afinal de contas, aquilo foi um puta de um trauma.
O diretor deu de ombros e continuou seus afazeres, até que finalmente chamou Frances para depor o que sabia.
— Bom... eu não me lembro de muita coisa, apenas do que os tios me contaram e o que eu soube pela imprensa... — ela começou, com o rosto baixo e lágrimas em seus olhos. Ela contou tudo menos o envolvimento de Dave. Por fim, ela me surpreendeu quando começou a falar sobre mim: — Eu gostaria que papai estivesse aqui. Ele era um homem bom, eu sinto isso! Nada que mamãe poderia ter me dito me faria pensar o contrário. Papai é o meu maior orgulho. É maravilhoso saber de quem eu sou filha. É maravilhoso sentir que papai me olha lá do céu. — Ela sorriu e começou a chorar, indo em direção de Krist para abraçá-lo.
Automaticamente comecei a chorar até que finalmente decidiram chamar Krist.
— Então, Krist, pode nos dizer a sua versão dos fatos? E tudo que aconteceu também, onde você estava em principal. Ficamos sabendo que você havia sumido e não falava com Kurt antes de sua morte. Isso é verdade?
— Bom... sim, é verdade. Mas eu estava chateado porque Kurt queria acabar com o Nirvana. Eu havia adquirido sucesso com aquela banda, é claro que eu ficaria chateado. Mas nunca me passou pela cabeça que Kurt morreria daquela forma. Se eu soubesse, eu juro que eu nunca teria deixado-o de lado, eu teria impedido todas as suas crises e teria impedido seu suicídio. [...] — Eu apenas o olhava do canto do set, até que Krist me olhou de longe e sorriu. — Eu sinto Kurt ao meu lado a todo momento, eu sinto que os pensamentos dele estão sobre mim. Eu sou tão grato em poder cuidar de minha sobrinha todos esses anos. Eu vejo Kurt nela. Abraçá-la é como se eu estivesse abraçando meu melhor amigo novamente. — Aquele viado queria me fazer chorar? Não... eu não vou chorar.
Ele finalizou seu depoimento e veio andando devagar até mim, se encostou na parece e ascendeu um cigarro, fumando-o devagar. Krist olhou para baixo e murmurando, disse: — Eles não podem saber que vemos você. — Eu ascenti — Só saiba que eu te amo e me desculpe por apenas falar isso agora.
Eu sorri para ele. — Tudo bem, "tio krist" — eu ri — Eu também te amo muito, cara. Apenas não me faça chorar, ok? — ele riu.
Agora era a vez de Dave. Dave esteve a todo momento do outro lado da câmera fazendo palhaçadas para mim e me zoando quando ninguém o olhava. Que filho da puta! Eu decidi que eu iria me vingar de todos os "vai se foder, seu cuzão" que ele murmurou pra mim de longe. Por fim, o diretor disse "ação" e Dave começou a falar. Eu comecei a jogar coisas de longe em cima do Dave e Dave apenas dizia para eu parar entre risadas. Eu cheguei ainda mais perto e olhei para ele, ele ainda estava rindo de mim. Eu comecei a fazer caretas e comecei a fazer cócegas nele.
— HAHAHAHAHAH Kurt, para! — Ele parou de rir e eu soltei-o. Meu deus, que merda ele fez?
— Kurt? — o diretor olhou para Dave como se ele fosse louco — Além de termos um set mal assombrado, você ainda brinca dizendo que era o Kurt?
— NÃO! Não é isso.... é que... — ele tentou explicar, sendo imediatamente cortado.
— Shhhhhhhh... Apenas continue o depoimento. Não quero ficar nem mais um segundo nesse set cheio de fantasmas estilo "O Exorcista". Aposto que daqui a pouco alguém será possuído e irá vomitar ervilhas.
— Só não venham com suas nurfs jogar água benta no local! — Disse um estranho de voz meio rouca. Dava para perceber que ele não era americano, mas falava inglês muito bem. — Espírito não é vampiro. — Ele olhou pra mim, acho que ele podia me ver. Ele fez um sinal de "calma" e continuou a falar. — Sim, realmente, esse set é assombrado sim. Mas a "assombração" acompanha esse moço — Ele apontou para Dave e riu, assim como Dave.
— Quem é você? — disse o diretor.
— Prazer em conhecê-lo também, meu nome é Rodrigo Bonsaver e eu tenho permissão para gravar uma limpeza aqui. Meu canal no youtube é o Spooky Houses Casas Assombradas.
— Masoq.... — eu fiquei sem entender nada. O que caralhos era "canal" e o que caralhos era "youtube"? Aquele cara parecia os paranormais fajutos do Discovery Channel, com a esceção de que ele havia me visto.
— Apenas continuem a gravar e senhor Dave Gohrl: Eu espero falar com você antes do senhor ir embora. — Ele disse sério.
— Tudo bem. — Dave estava com medo daquele homem louco? Era inacreditável.
Continuamos nossos trabalhos e no fim de tudo fomos encontrar aquele maluco. Vocês não iriam acreditar no que aquele louco disse para nós, meus amigos. Ele realmente era um louco. Eu não sei o que aquele homem tinha, mas ele realmente sabia de tudo sendo que apenas o nosso pequeno grupo de companheiros sabiam o que havia acontecido. "Mundo espiritual"? "Kurt poderia ser expurgado"? "Dave está tendo muita atenção"? "Kurt não pode com os obcessores"? Eu ainda estou tentando entender o que ele disse.
Eu, Dave e Krist fomos embora ainda pensando sobre o que aquele homem havia falado. Não sabíamos nem o que falar uns com os outros então nós decidimos apenas beber e fumar para esquecer tudo aquilo.
Será que eu realmente estava em perigo?